terça-feira, 6 de março de 2012

Capítulo 7: Que não seja Pablo

Tudo aconteceu rápido demais. Mas dentro de sua cabeça uma eternidade pesou-lhe os ombros.

Ainda ouvia Pablo dizer sobre o rapaz de ontem, mas não prestou atenção para onde seu amigo tinha ido. De repente foi puxada de dentro das trevas na qual se encontrava. Aquele disparo havia sido um tiro, sem dúvida! e seu amigo não estava ali.

Uma confusão se iniciou dentro do restaurante, as pessoas se levantaram e tumultuaram a porta de entrada. Dora se levantou sentindo um peso na nuca, meio zonza um mistura de cerveja, maconha e medo. Onde estaria Pablo? Ela rezava e pedia mentalmente que não fosse ele... Que não fosse ele.

Caminhou até a porta esbarrando, empurrando todo mundo. Na rua a confusão ainda era maior, uma multidão fazia um círculo em volta de um corpo estendido.

Era a morte. Era a morte que vinha lhe beijar a face naquela tarde de sábado e sol quente. Beijava-lhe naquele restaurante onde a vida pulsava. Vinha intrusa e impiedosa, reinando sobre todos.

Enquanto seu coração disparava, á medida em que ela abria
espaço na multidão para chegar mais perto do cadáver, Dora ia com o pensamento atinado, quase em marcha, quase em voz alta: “Deus não deixe que seja Pablo”, “não deixe que seja Pablo”, “Deus!” .

A primeira coisa que notou foi a poça de sangue que escorria do corpo estendido no asfalto quente. Diferente de como via em filmes ou lia em livro o líquido vermelho não escorria, mas lentamente ia formando um desenho qualquer. Descia grosso e parava em uma pocinha que rapidamente secava e voltava a ficar úmida. Ela levou a mão à boca, o peito doeu. Olhou
bem no rosto do morto.

Segurou um grito, cambaleou. Quase caiu.

Se afastou empurrando com o cotovelo as pessoas que falavam ao celular, que ligavam pra emergência. Ouvia alguém dizer que tinha sido assalto, outro dizia que foi acerto de contas. Ninguém vira nada. Tudo havia sido muito rápido. Um rapaz tão bonito e jovem, dizia uma outra voz...

Dora sentiu o olhar embaçado, as vistas escuras. Só sentiu-se deslizando para dentro de uma escuridão gelatinosa. Era como pisar em areia movediça. Todo o asfalto derretia sob aquele sol, aquele sangue que estancava no asfalto. Ela se dava conta enquanto era engolida por garras negras que a
puxavam para o limbo, que a morte estava a espreita, que era o fim da linha.

Tentou se agarrar em alguma coisa, não havia nada, era o vazio.

Sua garganta estava seca, seu peito doía e suas pernas não respondiam as ordens do cérebro.

E a menina que não tinha andado quase nada, que ainda mal tinha se afastado do morto, desmaiou. Inconsciente, como quem dança um passo macabro, caiu a poucos metros do corpo pálido e sem vida do jovem assassinado. Dora desmaiara de braços dados com a morte.

Um comentário:

  1. Por favor, não me deixe nesta ansiedade... espero q o capítulo 8 esteja saindo do forno.

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a menina quer te ouvir...