terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Capítulo 5: Pablo

Quinto capítulo: Pablo.

As Luzes verdes fluorescentes do microondas na cozinha avisavam Pablo que eram três e cinquenta da manhã. Ele abriu a geladeira meio sem saber porque. Cambaleando avistou um pedaço de pizza de horas atrás. Se apoiou na porta aberta e deu a primeira mordida ali mesmo, em pé, bêbado na cozinha. Pegou a bisnaga de ketchup, fechou a geladeira, atravessou o pequeno corredor e se sentou no chão da sala. Ligou a TV só pra ouvir um barulho qualquer. O dia logo chegaria. E seria sábado. Ele dormiria até tarde, acordaria de ressaca, almoçaria em casa mesmo, perderia horas deitado no sofá até a noite começar de novo.

- Sábado, pensou ele suspirando e em sendo sábado ele então iria dormir.
-
Por isso quando começou ao ouvir Coldplay a cantar “Viva la Vida”, ele viu Dora toda de azul, Dora num estranho vestido, Dora gesticulando. Eles estavam numa festa e a música tocava alta. Coldplay agora gritava na vitrola moderna enquanto Dora movia os lábios em fala, mas cujas palavras eram impossíveis de serem ouvidas.

Era a música deles! A música que os dois adoravam e selara pra sempre aquela amizade quatro anos atrás. No sono que tinha acordado a música não tinha fim. Então meio feliz, meio incomodado e uma certa angústia querendo tomar conta de todo o cenário criado por sua mente debilmente bêbada, ele abriu os olhos.

Estava na sala, deitado no tapete, TV ligada, o sol entrava sem piedade pela porta da sacada aberta, ele ainda ouvia a música só que ainda mais alta.

Ainda atordoado, com dor de cabeça, se deu conta finalmente que não era um sonho, não era um sono, nem mesmo uma lembrança de Dora, mas seu celular que tocava. Aquela música... Era Dora ligando!

Viva la Vida, era Dora chamando.

Ele fez uma careta, sentia a boca seca e amarga, não queria atender. Dormir, era o que ele deveria fazer. Mas era aquele tipo de ligação que não dava pra não atender por mais cansado que se esteja, por mais vontade de ir pra cama, por mais desejo louco de fechar tudo e só acordar as quatro da tarde. Era Dora sim, Dora sua melhor amiga, e ele, ele tinha que atender porque se havia algo que se mantinha igual era sua lealdade a ela. Fora leal e sempre o seria.

Atendeu, voz fraca.

- Ow tava dormindo?

-Tava deitado - mentiu.

- Que vai fazer?

- Nada, acho.

- Ta um dia lindo! pensei em ir aí, tomar sol com você e depois irmos almoçar em algum lugar... beber uma coisa qualquer... Vamos?

- Hummm..., fingiu dúvida. Tá. Pode ser... A que horas? Cê já tá vindo?

- Sim, pensei em ir agora. Passar no mercado, levar alguma coisa pra gente beber e comer na piscina...

Dora soara estranha. Olhou o relógio, nove e dez da manhã. Ela não podia estar animada assim. Dora não era assim.

- Tá bom, disse levantando e fazendo uma careta para si mesmo. Venha!

- Jairo me ligou ontem, disse ela de sopetão e o tom mudou. Ele demorou alguns segundos para assimilar tudo. O que afinal ela queria com aquele telefonema?

- E?

- Eu não quero ficar sozinha...

Ele percebeu que ela engoliu um soluço, não devia nem ter dormido. Ela ficou em silêncio.

- Amiga...

Em frente ao espelho do banheiro, ele fitava sua cara amassada. Que olheiras! pensou colocando o óculos escuros que estava em cima do cesto de roupas sujas. E como se os óculos lhe dessem certa força para esconder os porquês das olheiras escuras e da bebida descontrolada ele falou com convicção:

- Amiga, vem pra cá logo! A gente conversa. Vamos ter um ótimo dia juntos!

3 comentários:

  1. Até COLDPLAY?!
    Perfeeeito!!!
    To amando...

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  2. "Jaime me ligou ontem, disse ela de sopetão e o tom mudou."
    Não é Jairo?! rsrs
    Tá bom demais, continua!

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  3. Leitoras assíduas de Ed,

    Sorry! o erro Jaime ao invés de Jairo foi meo! da Sônia revisooouuuura rs... mea culpa!
    Brigadu! Minha memória buscou na infância o nome Jaime, do meu tio, e enfiou no texto... rs...

    E obrigada pelas visitas e leitura! A menina se inspira... rs

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a menina quer te ouvir...